Simone de Beauvoir ⋅ O Segundo Sexo | volume 2 (1949)




"A sociedade escraviza a Natureza, mas a Natureza domina-a, o Espírito afirma-se além da Vida; mas dissipa-se, se a vida não o sustenta. A mulher apoia-se nesse equívoco para dar maior importância a um jardim que a uma cidade, a uma doença que a uma ideia, a um parto que a uma revolução; esforça-se por restabelecer esse reinado da terra, da Mãe, sonhado por Baschoffen, a fim de reencontrar o essencial em face do acessório. Mas como ela é, também, existente que habita em transcendência, só poderá valorizar a região em que se encontra confinada, transfigurando-a; empresta-lhe uma dimensão transcendente. O homem vive num universo coerente que é uma realidade pensada. A mulher está às voltas com uma realidade mágica que não se deixa pensar: evade-se dela através de pensamentos privados de conteúdo real. Ao invés de assumir a existência, contemplado céu a Ideia pura do seu destino; em vez de agir, ergue a sua estátua no imaginário; em vez de raciocinar, sonha."


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