Palmira


Mais de cem anos,
Uma sardinha para doze,
E uma vontade de estar acordada.
As vestes pretas e cinzentas,
O cabelo branco,
Os óculos primeiro, depois os olhos,
A pela macia enrugada pela vida,
O sorriso tímido da perda e da esperança,
Da minha preferida.
As histórias revividas e repetidas,
Porque a vida é só a lembrança que temos dela:
Uma palmadinha na culatra,
Um carinho na mesa do almoço,
O despertar às cinco,
O cheiro a arroz frito.
E uma saudade no coração:
És uma estrela que sorri
E as minhas lágrimas são flores
Plantadas por ti.


— Daniela Melo