Machado de Assis ⋅ O Espelho (1882)


© Muriel Napoli ' Osaka'



"Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro... Espantem-se à vontade; (...). A alma exterior pode ser um espírito, um fluido, um homem, muitos homens, um objecto, uma operação. Há casos, por exemplo, em que um simples botão de camisa é a alma exterior de uma pessoa; — e assim também a polca, o voltarete, um livro, uma máquina, um par de botas, uma cavatina, um tambor, etc. Está claro que o ofício dessa segunda alma é transmitir a vida, como a primeira: as duas completam o homem, que é, metafisicamente falando, uma laranja. Quem perde uma das suas metades, perde naturalmente metade da existência; e casos há, não raros, em que a perda da alma exterior implica a existência da inteira. (...) Agora é preciso saber que a alma exterior não é sempre a mesma..."



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