Hermann Hesse ⋅ Contos Maravilhosos (1919)
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© Elizabeth Becker 'Plant Study No. 27' |
IRIS
"Qualquer manifestação à face da Terra é uma metáfora, e cada metáfora é um portão aberto, através do qual a alma, quando para tal está preparada, pode ter acesso ao interior do mundo, onde tu e eu e o dia e a noite são um só. Toda e qualquer pessoa se depara aqui e ali na sua vida com um tal portão aberto, a qualquer um ocorre em determinada altura a ideia de que tudo é visível é uma metáfora, e que por detrás dessa metáfora reside o espírito e a vida eterna. É certo que poucos são os que atravessam esse portão e que, pela realidade pressentida desde o íntimo, renunciam à beleza da aparência.
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Era frequente deixar-se ficar imerso numa contemplação de si mesmo sentado e entregue às particularidades do seu próprio corpo; de olhos fechados, ao engolir, ao cantar, ao respirar, experimentava emoções, sensações e noções na boca e no pescoço; também aí sentia a presença do trilho e do portão através dos quais a alma encontra outra alma."
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